Para iniciar as postagens da semana, ocorreu-me refletir sobre a ira, esse que é dos mais temíveis sentimentos humanos. Por isso mesmo, deve-se evitar ao máximo ser dominado por esse tipo de emoção, pois as consequências daí advindas podem ser as piores possíveis. E, convenhamos, a abordagem parece mais do que oportuna, diante da atmosfera pesada facilmente percebida no transcorrer dos dias atuais, com evidentes radicalizações e demonstrações de ódio, a criar um ambiente de perigoso contágio emocional!
Conceitualmente, a ira é sinônimo de cólera, um tipo de indignação com fúria e violência em alguma medida. Fazendo síntese de definições e esclarecimentos disponíveis em publicações pela internet, a ira é um sentimento intenso de ódio, mágoa e rancor contra algo ou alguém. Sendo parte da natureza humana, todos os indivíduos podem sentir ira. Contudo, vale observar que algumas pessoas conseguem controlá-la e outras se descontrolam e são dominadas por esse sentimento, agindo e falando de maneira agressiva.
De acordo com o “dicionárioinformal”, seria um sentimento agonizante no qual o indivíduo passa a ser dominado pela raiva.
Sendo a ira um dos tipos de emoção natural, conforme registrado no artigo “A ira é extremamente tóxica para o organismo”, publicado no site A Mente É Maravilhosa, em 23/9/2020, … O ser humano, então, está diante de um grande paradoxo. Ele sente a ira de qualquer jeito. Não é possível mutilar essa parte de si mesmo. No entanto, deve aprender a lidar com ela, ou adoecer o corpo e a mente. A boa notícia está no fato de que é possível fazer isso. É possível canalizar a ira de uma maneira construtiva. Competir, empreender e se arriscar são formas de fazer isso. Se não conseguirmos, o nosso corpo vai sofrer as consequências.
Segundo diversas pesquisas científicas, a ira será prejudicial de alguma forma para o indivíduo: quer exploda, quer fique contida. E os adoecimentos para quem cultiva essa emoção se manifestam de diferentes maneiras, provocando cálculos biliares, transtornos digestivos, anomalias nas artérias carótidas e elevação da produção de hormônios, especialmente da adrenalina, o que pode levar a ataques cardíacos ou doenças cerebrais.
Voltando para o enfoque do tema na perspectiva filosófica, recorro ao estoicismo (recentemente destacado aqui no blog), essa linha filosófica que preconiza a tranquilidade da alma.
Mesmo sabendo que a ira é um tipo de sentimento afeito à espécie humana, como de início mencionado, é oportuno questionar:
“Será que a ira faz bem em certa medida, ou é sempre prejudicial?”
E, em complemento, “como podemos controlá-la?”
Bem, nos dizeres do arcebispo português Martino Bracarense (520 d.C – 579 d.C), “A ira transforma todas as coisas do melhor e mais justo em seu contrário. Quem quer que ela tenha atingido, a ira não consente que se lembre de nenhum de seus deveres. Incida ela em um pai, ele se torna adversário; em um filho, torna-se parricida; em uma mãe, torna-se madrasta; em um cidadão, torna-se inimigo; em um rei, torna-se tirano.”
Vamos, daqui para a frente, recorrer um pouco à excelente abordagem, clássica, contida no livro Sobre a Ira. Sobre a tranquilidade da alma, que integra a série “Diálogos”, escrita por Sêneca (5 a.C – 65 d.C) no limiar do Século I d.C.
A ira é um tipo de sentimento/emoção que, na concepção do referido filósofo, na verdade se caracteriza como uma pequena loucura, por ser desprovido de autocontrole. Quem se encontra nesse estado não se importa com parentesco, fica surda à razão e ao conselho, podendo ser motivada por causas insignificantes. Trata-se da mais terrível e violenta das paixões!
Ainda de acordo com Sêneca, também influenciado pelo pensamento de Aristóteles, a ira seria um desejo de retribuir o sofrimento.
Cabe realçar que, no âmbito da filosofia estoica, a ira não é uma reação impulsiva e instintiva, mas é antes o consentimento cognitivo que tais reações iniciais à ação ou palavras ofensivas são de fato justificadas.
Segundo Sêneca, “A humanidade nasce para assistência mútua e a ira para ruína mútua, a primeira ama a sociedade, a última destrói”.
Assim, por ser não natural, a ira deve ser evitada.
Na prática, o maior remédio para a ira é o adiamento. Devemos adiar a raiva não para que possamos perdoar a ofensa, mas para que possamos formar um julgamento correto sobre ela. Uma mente quente é naturalmente mais propensa a ira. Ao adiarmos a ira, damos tempo para que as coisas esfriem e muitos benefícios virão disso. E uma consequência disso será que não seremos exasperados por motivos fúteis.
Sêneca argumenta que a raiva é incompatível com o amor. “O último nos exorta a amar, a ira nos exorta ao ódio”. Quem busca nutrir o amor em sua vida consegue manter a ira afastada.
Indo mais além, o filósofo assevera que “a ira não compensa em nenhum caso e só faz mal àqueles que a nutrem dentro de si.”
Segundo esse raciocínio, devemos ensinar às crianças, desde cedo, a não darem lugar à ira. E isso é papel da educação. Portanto, a lógica é: se os jovens não tornarem a ira um hábito, conseguirão controlá-la com muita eficácia.
Ficam essas reflexões, igualmente essa dica de leitura, como singelo contributo para o bem viver!
Ah, é importante saber o que você pensa sobre o tema, trazer enriquecimento aqui com a sua percepção e experiência. Portanto, gostaria muito de ter o seu comentário. Desde logo agradeço!
Sim, a ira sempre é nociva. Mas a raiva bem dosada, apresentando uma indignação, pode ser muito bem-vinda!
Ok, caro Arnaldo, o seu comentário é importante aqui, ainda mais, no particular, sabendo da sua atuação como terapeuta holístico. Obrigado, amigo!
Realmente a ira quando não é controlada é muito perigosa para a saúde e para o semelhante.
Na minha cidade por causa de uma contrariedade no trânsito, um dos motoristas desceu do carro ameaçando bater no outro e tudo isso na frente de seus filhinhos pequenos que assistiram a tudo. Imagine se o motivo fosse algo ainda mais grave, a que ponto uma pessoa dessas, que não controla as próprias emoções poderia chegar?
Importante reflexão, obrigada.
Muita Paz
Catarina 🌸
Obrigado, Catarina, por mais esse comentário e, mais ainda, pelo exemplo mencionado que ilustra o perigo do descontrole emocional.
Abraço de luz!
Gostei muito do texto! Assim ficamos sabendo as consequencias dela em varias situacoes e como ligar com ela!
Parabéns!
Grato, Paulo, pelo comentário e por ter apreciado o conteúdo!
A ira é um sentimento perigoso, porque sem controle as consequências podem ser drásticas.
Verdade!