Relembrando o maravilhoso poema “Monólogo das Mãos” (texto e vídeo)!

Imagem: ArtedaSereia

Ah, as mãos! Como elas são importantes, emblemáticas, como exprimem ideias, ações, como carregam simbolismos, como marcam e até mesmo diferenciam a presença humana… Eu poderia desfilar um rosário de papéis, ou funções, que elas cumprem no dia a dia, na existência de cada um de nós.

Falando aqui por mim, afora as funções básicas e essenciais que as mãos desempenham nas nossas vidas, me dou conta de que utilizo as mãos com notória intensidade, graças a Deus (rsrs), seja porque tenho ascendência paterna italiana (reconhecidamente aquele povo “fala com as mãos”), seja porque nas minhas atuações nos campos da comunicação e da música, em palestras, escrevendo textos, gesticulando ao cantar, tocando o violão etc. dependo muito das minhas mãos!

Bem, um icônico exemplo poético a esse respeito foi explorado no belíssimo poema “Monólogo das Mãos”, autoria do jornalista e poeta brasileiro Guiseppe Ghiaroni (1919 – 2008), que mereceu marcante interpretação, originalmente, pelo aplaudido ator Procópio Ferreira (1878 – 1979).

Confira o texto:

Monólogo das Mãos

de Ghiaroni (imortalizado por Procópio Ferreira)

 
Para que servem as mãos?

As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever…

As mãos de Maria Antonieta, ao receber o beijo de Mirabeau, salvou o trono da França e apagou a auréola do famoso revolucionário;

Múcio Cévola queimou a mão que, por engano não matou Porcena; foi com as mãos que Jesus amparou Madalena; com as mãos, David agitou a funda que matou Golias;

As mãos dos Césares romanos decidiam a sorte dos gladiadores vencidos na arena;

Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência; os anti-semitas marcavam a porta dos judeus com as mãos vermelhas como signo de morte!

Foi com as mãos que Judas pôs ao pescoço o laço que os outros Judas não encontram.

A mão serve para o herói empunhar a espada e o carrasco, a corda; o operário construir e o burguês destruir; o bom amparar e o justo punir; o amante acariciar e o ladrão roubar; o honesto trabalhar e o viciado jogar.

Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba!

Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia!

As mãos fazem os salva-vidas e os canhões; os remédios e os venenos; os bálsamos e os instrumentos de tortura, a arma que fere e o bisturi que salva.

Com as mãos tapamos os olhos para não ver, e com elas protegemos a vista para ver melhor.
Os olhos dos cegos são as mãos.

As mãos na agulheta do submarino levam o homem para o fundo como os peixes; no volante da aeronave atiram-nos para as alturas como os pássaros.

O autor do “Homo Rebus” lembra que a mão foi o primeiro prato para o alimento e o primeiro copo para a bebida; a primeira almofada para repousar a cabeça, a primeira arma e a primeira linguagem.

Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas.

A mão aberta, acariciando, mostra a bondade; fechada e levantada mostra a força e o poder; empunha a espada, a pena e a cruz!

Modela os mármores e os bronzes; dá cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia nas formas eternas da beleza. Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza; doce e piedosa nos afetos medica as chagas, conforta os aflitos e protege os fracos.

O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor, o melhor pacto de amizade ou um juramento de fidelidade. O noivo para casar-se pede a mão de sua amada;

Jesus abençoava com as mãos; as mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as mãos as cabeças inocentes.

Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica, ainda por muito tempo agitando o lenço no ar.
Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias.

E nos dois extremos da vida, quando abrimos os olhos para o mundo e quando os fechamos para sempre ainda as mãos prevalecem.

Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos maternas que nos seguram o corpo pequenino.
E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára, o corpo gela e os sentidos desaparecem, são as mãos, ainda brancas de cera que continuam na morte as funções da vida.
E as mãos dos amigos nos conduzem…
E as mãos dos coveiros nos enterram!

Fonte: https://mopesco.odonto.ufg.br/n/23776-monologo-das-maos

E agora, para reviver tão emblemática obra poética, acabo de assistir a recente interpretação desse texto pelo admirável Nelson Freitas, em vídeo por ele publicado, no youtube, que pode ser visto abaixo.

Espero que você, assim como eu, se delicie com esse momento inspirador da arte poética e teatral brasileiras:

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Sobre JCDattoli

Este blog foi idealizado para compartilhar reflexões e discussões (comentários, frases célebres, textos diversos, slides, vídeos, músicas, referências sobre livros, filmes, sites, outros blogs) que contribuam para a realização e o crescimento do ser humano em toda a sua essência e nas dimensões pessoais e profissionais. Almejo que o ser humano se mostre cada vez mais virtuoso, atento e disposto a servir ao próximo em cada momento da sua existência. Atuei profissionalmente por quatro décadas, com bastante intensidade, nas áreas pública e privada. Ocupei de cargos técnicos a postos de chefia e direção. Neste novo momento, pretendo ajudar pessoas a atingir outros patamares na vida – e na profissão. Dedicarei parte do tempo para ações sociais/humanitárias (levar música ao vivo para casas de idosos é uma das frentes de atuação, iniciada em 2007), além de assegurar espaços na agenda para o exercício do autoconhecimento e para a meditação, no caminho da evolução pessoal permanente . Gosto de ler, de aprender coisas novas, de praticar atividades físicas e de cantar-tocar violão. A família e as amizades são preciosas matérias-primas na construção do bem viver. Apesar das incongruências, desencontros e descaminhos humanos, tenho por missão dedicar-me mais e mais às pessoas como contributo para um mundo verdadeiramente melhor!
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7 respostas para Relembrando o maravilhoso poema “Monólogo das Mãos” (texto e vídeo)!

  1. lulaborda disse:

    Esse monólogo é maravilhoso! Com as mãos, desde recém nascidos, seguramos o dedo dos pais, num gesto de quem precisa sentir segurança…

  2. dulcedelgado disse:

    Uma preciosidade que é nossa, muito nossa, e a que nem sempre damos os devido valor….nem exploramos o real potencial.
    Boa partilha!👍

  3. jocaferreira disse:

    Excelente

    José Carlos Ferreira Móvel 61 99927-1415 E-mail jocafe@msn.com ________________________________

  4. Márcia Tauil disse:

    As mãos!! Que bom reler!
    Ótimo post!!

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