
Quero iniciar as postagens da semana com algo que remeta ao Natal, festividade Cristã que se aproxima para celebrar, como acontece anualmente, a data de nascimento de Jesus.
Esse período do ano evoca, naturalmente, um clima diferenciado, com um toque mais elevado na nossa essência humana, que de alguma forma mexe com a gente, com o nosso emocional, fazendo sintonia com o bem, no espírito da solidariedade e da união, além de despertar, com maior destaque, o significado e o valor da família.
E se assim não fosse estaríamos relegando o belíssimo exemplo que nos trouxe o enviado de Deus, o Mestre dos Mestres, quando da sua presença aqui na terra, semeando e fincando raízes capazes de tornar os humanos cada vez melhores, tendo por pano de fundo a prática do amor verdadeiro.
E essa referência natalina vem, hoje, em tom saudosista, remetendo a significados e comportamentos dos festejos do Natal que estão se perdendo com o passar do tempo, mas que são caros para muitos de nós.
Esse olhar para a maneira como as coisas se desenrolavam no período natalino, algumas décadas atrás, nos é apresentado nesta belíssima crônica, abaixo transcrita, intitulada “O melhor presente de Natal”, do conterrâneo (de Itaquara, Bahia) Narlan Matos, escritor, poeta e professor, radicado nos Estados Unidos, publicada dia 17 passado em seu perfil no Facebook.
Uma mensagem que resgata símbolos e valores tão importantes, bem escrita, muito apropriada e certamente emocionante, que eu assinaria embaixo, cujo conteúdo serve, de forma subliminar, como um convite à reflexão, a meu ver necessário e oportuno, cada vez mais!
Leia a seguir:
“O melhor presente de Natal
Narlan Matos
Nos antigos natais, os cartões iam chegando pelo correio, semanalmente, e iam virando montanhas de papel embaixo da árvore. Lá em casa, liam a todos, com parcimônia. O carteiro, um velho amigo da família, chegava com sua bicicleta, e gritava: correio! Endereçava umas palavras fraternas a quem o recebia no portão. E seguia seu trajeto calmo. Eu passava horas observando-os, mesmo quando ainda não sabia ler. Me lembro de seus motivos. Casas com aspecto mágico, vindas de um mundo distante. Uns, mais simples, outros, ricamente decorados. Dava uma sensação de frio, quando na verdade, era dezembro embaixo do Equador. O calor brasileiro lembrava mais a Terra Santa, o deserto, onde nascera Jesus. A neve nos cartões, os bonecos de neve ajudavam a esfriar o tempo e alegrar os corações.
Aquela neve, comercial ou não, nos caia muito bem. Ninguém ligava. A gente era feliz. Morávamos num mundo remoto, onde as notícias chegavam atrasadas, sentíamos uma enorme necessidade de estarmos mais dentro do mundo, mais próximos. As mensagens, escritas à mão, com caligrafia caprichada, eram declarações pessoais, carregadas de emoção e sinceridade: afinal de contas, apenas quem realmente se importa com alguém vai comprar um cartão, o envelope, escrever a mensagem e ir aos correios postar. Trabalheira sem fim.
Lá em casa, tocava apenas um disco de natal, aliás, em quase todas as casas. A Harpa e a Cristandade, do paraguaio Luis Bordon. Ele, com sua harpa paraguaia, gravou o LP mais icônico de natal daquele tempo. As músicas se repetiam no toca-discos dezenas de vezes. Mas ninguém ligava. A gente era feliz. Era natal, e uma metafísica diferente baixava sobre o mundo, uma mágica que só quem conheceu sabe.
A ceia era tão simples. Não tínhamos dinheiro para peru e outras iguarias. Mas, quem é feliz reconhece como iguaria uma galinha assada, farofa de manteiga, arroz com passas – era um manjar dos deuses. Ninguém ligava. Meu pai trazia meninos pobres, trajados com roupas velhas, maltrapilhas, mas aciadamente limpas. Eram parte da ceia como se fossem os pastores pobres de Israel, aos quais o anjo anunciou o nascimento do Messias.
A véspera do Natal era tão especial. Os amigos vinham, com suas famílias, fazer visitas. Compadres, comadres. Todos formalmente vestidos, inclusive as crianças – que logo sujavam as roupas brincando. A mesa posta com café e biscoitos. Aquelas alegrias ficaram comigo para sempre. As ligações à distância chegavam, de velhos amigos, muitas vezes idos para sempre para São Paulo, Rio ou outros paradeiros do continente Brasil. Perguntavam pelos amigos que ficaram, os que morreram. Eu via pessoas chorando ao telefone. Gente que não tinha telefone e, uma vez por ano, usava o nosso para se comunicar no natal.
Sempre íamos à Missa do Galo, à meia noite. Hora magna do nascimento de Jesus. Aquele que daria a vida pelos homens. A conversão desta data numa explosão comercial sacrificou o que ela tinha de mais único: o sagrado. Cada vez mais o natal foi convertido em receber.
Esse natal louco de supermercados e shopping centers com seus anúncios imperdíveis, de descontos imperdíveis nos presentes a comprar é anacrônico. Um estranho vazio, uma estranha morte vem tomando conta, cada vez mais desta data, tão mágica. Era mágica porque os homens estavam embebidos de amor, fraternidade, em paz com seus semelhantes, embalados pelo nascimento do Deus Menino, do amor. O natal é a descoberta da simplicidade e do sagrado. O ser humano se afastou da simplicidade, do sagrado, e por isso, foi expulso do Paraíso. Nos antigos natais, o que contava não eram os presentes que comprávamos para nós ou que recebíamos. O que contava era ESTAR presente na vida dos semelhantes. Eram para os amigos, os parentes, o agradecimento pela ternura na jornada da vida. Saudades das festas de natal de minha infância, aquele onde o natal não era a festa de receber, era a festa de se dar de presente. “
Belo texto 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
Pois, é , meu caro, neste periodo natalino, creio que todos que estamos na fase dos …enta anos , temos esta sensação , tanto de melancolia, quanto saudades
– saudades da infancia, estação magica da vida humana, onde viamos tudo com um olhar inocente.
– para mim, o Natal chegava atraves do cheiro delicioso de frango assado , também um arroz com passas, um refrigerante dividido entre os irmãos e as visitas , pronto . Estava tudo bem .
-logo após , iamos visitar os amigos e ver o que cada um ganhou : bola para os meninos e boneca para as meninas, ambos de plastico .
-ah, que alegria !
-as bolas furavam no primeiro chute, no chão de terra , e as bonecas perdiam os braços logo após um primeiro aperto. Mas isto não interessava muito.
-nossos olhares infantis logo miravam outra coisa .
– de fato, a multiplicidade de presentes hoje em dia, a oferta de comidas e opções ,tornaram o Natal uma data estressante , falsos gourmands debochando do arroz com passas , publicidades luminosas , sorrisos brilhantes , dando uma outra impressão . Simplesmente esquecemos o aniversariante , e ficamos a tergiversar sobre a real data , a efeméride, etc. Esquecendo o simbolismo todo e sua mensagem .
-mesmo grupos que se dizem cristãos, não comemoram o natal, por considera-lo propriedade da Igreja catolica , enfim a essencia do Natal, que creio seja simples e profunda , fica apenas na mente daqueles que tenham boa vontade , como dizia o mestre .
-abraços fraternos e um bom Natal para o senhor, e sua familia e seus entes querido
Acho que perdemos a essência do natal. Existe uma diferença enorme, entre o natal de quando era menina e o de hoje. Ele se tornou mais comercio. Por outro lado, o passar do tempo, a perda de entes queridos, vão nos tirando a alegria do Natal.
Esse texto de Narlan Matos descreve bem o meu pensamento.
Feliz Natal pra você, familiares e todos os que por aqui passam!
Muito obrigado, Lúcia. Que seja um período de iluminação interior, de compreensão, de fraternidade e, acima de tudo, de evolução individual para cada um de nós. Na essência, que sigamos sem perder de vista o verdadeiro espírito do Natal.
Abraço fraterno, amiga!!!