“… Estamos acostumados a lutar o tempo todo, até mesmo durante o sono. Estamos em guerra com nós mesmos, e é fácil declarar guerra aos outros também.”
“… Nosso corpo e mente sabem curar a si mesmos se lhes dermos uma oportunidade para isso.”
“… Os indivíduos, comunidades e países estão cada vez mais necessitados de cura.”
Encontrei esse texto muito rico, postado no site Revista Pazes, dia 26 de junho passado, trazendo reflexões de sabedoria para nos fazer aquietar, serenar, interromper a agitação da mente, a aflição, os medos… Segundo informado, trata-se de trecho do livro ‘A Essência dos Ensinamentos de Buda’, do monge vietnamita Thich Nhat Hanh.
Não tenho dúvida de que, mais do que nunca, por tudo o que estamos vivenciando nos tempos atuais, são ponderações de grande valor sobre o jeito de viver, diria, essenciais, tendo por pressuposto o desejo minimamente razoável, por qualquer indivíduo, de levar uma vida em paz, com sensação de bem-estar e com saúde plena.
Tendo isso em mente, vale perguntar: o que fazer? Como fazer?
Como será visto, entre outros aspectos a se levar em conta, o texto fala da importância de praticar a respiração consciente, de estar no momento presente também de forma consciente, entre outros fatores associados. Os benefícios daí decorrentes são os melhores possíveis, conforme destacado na publicação.
Há um ponto que é realçado bem enfaticamente: a força do hábito, confrontada com a nossa vontade. Sobre isso, não podemos descuidar!
Mais objetivamente, como dicas fundamentais, o texto indica cinco técnicas, que teriam sido ensinadas por Buda, para que o indivíduo possa acalmar o corpo e a mente, e com isso se curar.
E falando nisso, existem pré-requisitos para a cura.
Confira todo isso nesse belo texto, que espero traga real valor para o seu modo de viver!
Reprodução a seguir:
“Como parar, se acalmar, descansar e se curar seguindo os ensinamentos de Buda

Texto extraído do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda”, de Thich Nhat Hanh, 95, um monge budista, pacifista, escritor e poeta Vietnamita ainda vivo.
A meditação budista tem dois aspectos – shamatha e vipashyana. Existe uma tendência a enfatizar a importância da vipashyana (“olhar em profundidade”), uma vez que ela tem o potencial de nos proporcionar insight e nos libertar do sofrimento e das aflições. Mas a prática da shamatha (“cessação”) é fundamental. Se não conseguirmos parar, o insight não chegará a nós.
Existe uma história zen sobre um homem e um cavalo. O cavalo está galopando rapidamente, e parece que o homem que cavalga se dirige a algum lugar importante. Outro homem, em pé ao lado da estrada, grita: “Aonde você está indo?” e o homem a cavalo responde: “Não sei. Pergunte ao cavalo!” Esta é a nossa história. Estamos todos sobre um cavalo, não sabemos aonde vamos e não conseguimos parar. O cavalo é a força de nossos hábitos que nos puxa, e somos impotentes diante dela. Estamos sempre correndo, e isso já se tornou um hábito. Estamos acostumados a lutar o tempo todo, até mesmo durante o sono. Estamos em guerra com nós mesmos, e é fácil declarar guerra aos outros também.
Precisamos aprender a arte de fazer cessar – parar nosso pensamento, a força de nossos hábitos, nossa desatenção, bem como as emoções intensas que nos regem. Quando uma emoção nos assola, ela se assemelha a uma tempestade, que leva consigo a nossa paz. Nós ligamos a TV e depois a desligamos, pegamos um livro e depois o deixamos de lado. O que podemos fazer para interromper este estado de agitação? Como podemos fazer cessar o medo, o desespero, a raiva e os desejos? É simples. Podemos fazer isso através da prática da respiração consciente, do caminhar consciente, do sorriso consciente e da contemplação profunda – para sermos capazes de compreender. Quando prestamos atenção e entramos em contato com o momento presente, os frutos que colhemos são a compreensão, a aceitação, o amor e o desejo de aliviar o sofrimento e fazer brotar a alegria.
Mas a força do hábito costuma ser mais forte do que nossa vontade. Dizemos e fazemos coisas que não queremos e depois nos arrependemos. Causamos sofrimento a nós mesmos e aos outros, e de forma geral produzimos grande quantidade de destruição. Podemos ter a firme intenção de nunca mais fazer isso, mas sempre acabamos fazendo de novo. Por quê? Porque a força do hábito acaba vencendo e nos levando de roldão.
Precisamos da energia da atenção plena para perceber quando o hábito nos arrasta, e fazer cessar esse comportamento destrutivo. Com atenção plena, temos a capacidade de reconhecer a força do hábito a cada vez que ela se manifesta. “Alô força do hábito, sei que você está aí!” Nessa altura, se conseguirmos simplesmente sorrir, o hábito perderá grande parte de sua força. A atenção plena é a energia que nos permite reconhecer a força do hábito e impedi-la de nos dominar.
Por outro lado, o esquecimento ou negligência é o oposto. Tomamos uma xícara de chá sem sequer perceber o que estamos fazendo. Sentamo-nos com a pessoa que amamos, mas não percebemos que a pessoa está ali. Andamos sem realmente estar andando.
Estamos sempre em outro lugar, pensando no passado ou no futuro. O cavalo dos nossos hábitos nos conduz, e somos prisioneiros dele. Precisamos deter este cavalo e resgatar nossa liberdade. Precisamos irradiar a luz da atenção plena em tudo o que fizermos, para que a escuridão do esquecimento desapareça. A primeira função da meditação – shamatha – é fazer parar.
A segunda função da shamatha é acalmar. Quando sofremos uma emoção forte, sabemos que talvez seja perigoso agir sob sua influência, mas não temos força nem clareza suficientes para nos abstermos. Precisamos aprender a arte de respirar, de inspirar e expirar, parando tudo o que estamos fazendo e acalmando nossas emoções. Precisamos aprender a nos tornar mais estáveis e firmes, como se fossemos um carvalho, e não nos deixar arrastar pela tempestade de um lado para outro. O Buda ensinou uma variedade de técnicas para nos ajudar a acalmar corpo e mente, e considerar a situação presente em toda a sua profundidade.

Essas técnicas podem ser resumidas em cinco estágios:
(1) Reconhecimento – se estamos zangados, dizemos “reconheço que a raiva está dentro de mim”.
(2) Aceitação – quando estamos zangados, não negamos a raiva. Aceitamos aquilo que está presente em nós.
(3) Acolher – abraçamos a raiva como faz uma mãe com o filho que chora. Nossa atenção plena acolhe a emoção, e só isso já é capaz de acalmar a raiva e a nós mesmos.
(4) Olhar em profundidade – quando nos acalmamos o suficiente, conseguimos observar profundamente para entender o que provocou a raiva, ou seja, o que está fazendo o bebê chorar.
(5) Insight – o fruto do olhar profundo é a compreensão das causas e condições, tanto primárias quanto secundárias, que provocaram a raiva e fizeram nosso bebê chorar. Talvez ele esteja com fome. Talvez o alfinete da fralda o esteja machucando. Talvez nossa raiva tenha surgido quando um amigo nos falou em um tom ofensivo, mas de repente nos lembramos de que essa pessoa não está bem hoje porque seu pai está muito doente. Continuamos a refletir dessa forma até compreendermos a causa de nosso atual sofrimento. A compreensão nos dirá o que fazer ou não fazer para mudar a situação.
Depois de nos acalmarmos, a terceira função da shamatha é o repouso. Suponha que alguém nas margens de um rio joga uma pedra para o ar e a pedra cai no rio. A pedra afunda lentamente e chega ao fundo do rio sem esforço algum. Depois que a pedra chega ao fundo do rio, ela descansa, deixando que a água passe por ela. Quando sentamos para meditar podemos nos permitir repousar da mesma forma que essa pedra. Podemos nos deixar afundar naturalmente, na posição sentada – repousando, sem fazer esforço. Temos que aprender a arte de repousar, permitindo que nosso corpo e nossa mente descansem. Se tivermos feridas em nosso corpo e em nossa mente precisamos repousar para que elas possam por si só se curar.
O ato de se acalmar produz o repouso, e o descanso é um pré-requisito para a cura. Quando os animais selvagens estão feridos, eles procuram um lugar escondido para deitar, e descansam completamente por muitos dias. Não pensam em comida nem em mais nada. Apenas descansam, e com isso obtêm a cura de que precisam. Quando nós seres humanos ficamos doentes, nos preocupamos o tempo todo. Procuramos médicos e remédios, mas não paramos. Mesmo quando vamos para a praia ou para as montanhas com a intenção de descansar, não chegamos realmente a repousar, e voltamos mais cansados do que partimos. Temos que aprender a repousar.
A posição deitada não é a única posição de descanso que existe. Podemos descansar muito bem durante meditações sentados ou caminhando. A meditação não deve ser um trabalho árduo. Simplesmente permita que seu corpo e sua mente descansem, como o animal no mato. Não lute. Não há necessidade de fazer nada nem realizar nada. Eu estou escrevendo um livro, mas não estou lutando. Estou descansando. Por favor, leiam este livro de uma forma alegre e relaxante. O Buda disse: “Meu Darma é a prática do não-fazer.” Pratiquem de uma forma que não seja cansativa, mas que seja capaz de proporcionar descanso ao corpo, às emoções e à consciência. Nosso corpo e mente sabem curar a si mesmos se lhes dermos uma oportunidade para isso.
Parar, acalmar-se e descansar são pré-requisitos para a cura. Se não conseguirmos parar, nosso ritmo de destruição simplesmente vai prosseguir. O mundo precisa imensamente de cura. Os indivíduos, comunidades e países estão cada vez mais necessitados de cura. “
Fonte: https://www.revistapazes.com/parar-acalmar-se-descansar-e-curar-se-ensinamentos-buda/
Muito bom!
Obrigado por deixar o seu comentário!!!
Dois temas interessantíssimos: a) como vencer qualquer discussão e b) como parar, se acalmar, descansar etc.. Em ambas situações, há de se fazer presente muita sensibilidade, sob o.imperativo da inteligência emocional. Comporta sobre ambos os caos boas reflexões, tanto quanto meus parabéns ao amigo pelas escolhas. Abraços.
Verdade, amigo Landim. Essa virtude da sensibilidade, combinada com a outra do controle das emoções, precisam estar ativas todo o tempo em nossa mente. Um desafio que vale a pena perseguir. Grato, abração!