
Ao longo do tempo, já foram diversas postagens feitas aqui sobre os medos, notadamente sobre os medos imaginários, que criamos em nossa mente, que viram crenças e que, em consequência, limitam a nossa vida de alguma forma. É sabido que os humanos precisam de certa dose de medo, atuando como nosso aliado, para nos proteger de perigos reais. O problema, entretanto, são os medos sem coerência, desmedidos.
Entre os 10 pontos trazidos no meu último post, sobre fatores que minam as nossas forças no dia a dia, o primeiro ali elencado é ‘o pensamento negativo’. Este, como realçado, se alimenta do medo, gerado por uma “justificada” necessidade de segurança que termina travando a pessoa, criando amarras e fechando-a para muitas vivências que poderiam ser experimentadas. As consequências dessa elaboração para o indivíduo são as mais variadas, que terminam por comprometer o seu desenvolvimento pessoal, profissional, a qualidade de vida, podendo ainda, e não raro, abalar seriamente a própria saúde.
Eu e um dos meus medos mais recentes
Quero ilustrar o argumento acima com uma situação recente, real, que aconteceu comigo.
Pratico atividades físicas com regularidade. Não poderia ser diferente, dentro da filosofia que preconizo publicamente a respeito da longevidade, que para ser boa precisa ser prazerosa, ativa, plena, com autonomia. E muito disso depende das nossas escolhas e decisões.
Assim, entre essas atividades, incorporei de três anos para cá o hábito de remar ao menos uma vez por semana, tendo como meta duas vezes, o que tenho procurado cumprir durante quase todo o ano, salvo quando as condições meteorológicas ficam adversas. É óbvio, para incorporar esse hábito que tanto desejei, a localização da minha atual residência foi um facilitador, por estar bem próxima da orla marítima, em trecho de praia na forma de uma pequena enseada, com águas sempre serenas e muito favoráveis às atividades náuticas em geral.
Onde estava o problema do medo?
Acontece que, por segurança (em vista de alguns receios que comento a seguir), rendendo-me a uma situação de maior conforto e comodidade, eu escolhi remar de caiaque. Claro, a minha vontade mesmo era a de utilizar o “stand up paddle” (SUP), que meus filhos praticam quando estão por aqui, e é o que mais se vê naquelas águas; mas eu dizia para mim (e para os outros) que o caiaque seria melhor, pois o SUP forçaria a minha coluna lombar, ou poderia reativar uma dor do passado que sofri no nervo ciático, com irradiação pela perna direita.
Por trás dessas desculpas, vale resgatar, estavam martelando na minha cuca os medos de não conseguir me equilibrar em cima da prancha, de levar uma queda, de passar vergonha etc. Convenhamos, tudo uma antecipação de algo imaginado com predominância restritiva e negativa. Por conta disso, foram cerca de três anos resistindo a uma vontade de sair de stand up, procrastinando um prazer, por mera maquinação da minha mente.
O que eu fiz, como superei?

Na última vinda de meu filho mais novo, em janeiro passado, tomei coragem, resolvi enfrentar esse medo, ou bloqueio. Assim, decidi que tentaria o SUP, com ele acompanhando ao lado, de maneira que eu recebesse as necessárias instruções e me sentisse encorajado. Assim fizemos. Saí como todos começam, ajoelhado sobre a prancha, remando vagarosamente, ganhei mais confiança e após cerca de 10 a 15 minutos, com todo o cuidado e muita coragem (rsrs), me coloquei em pé sobre a prancha, ainda trêmulo, mas fui me soltando, remando, adquirindo confiança e deu tudo certo. Ah, nenhuma queda. Uma glória!
Após isso, fui sozinho para uma segunda experiência, aluguei uma prancha diferente, saí ainda com bastante cuidado, pedindo o acompanhamento de um dos rapazes que fazem a locação dos equipamentos, para evitar algum “desastre”, mas, para minha satisfação, foi tudo tranquilo, sem qualquer problema.
Essas duas primeiras experiências provaram para mim que os medos eram infundados, pois nada do que imaginava de ruim aconteceu: dor de lombar, de ciático, desequilíbrios, quedas e por aí vai. Portanto, como ficou evidente, grande parte dos medos roubam a nossa vida!
Daí em diante, tenho utilizado o SUP com crescente desenvoltura e não voltei mais a remar de caiaque, até porque a minha intenção não é fazer qualquer tipo de competição, mas puramente unir a atividade física com o lazer, usufruindo bons momentos de harmonia e dando um “reset” na avalanche de notícias nada animadoras dos tempos atuais.
Portanto, fica esse registro como depoimento sobre a importância de exercermos a coragem e enfrentarmos os medos que teimam em brotar na nossa mente e a frequentar nossos pensamentos, com os estragos que naturalmente provocam.
Creio que, para muitas dessas situações, desde que sem maiores comprometimentos psicológicos e que requeiram a ajuda de profissional especializado, uma primeira forma de superação é se questionar: por que eu tenho esse medo? Isso faz sentido?
Por outro lado, converse com alguém que você imagina que pode lhe ouvir e lhe ajudar de alguma maneira. Às vezes é uma formulação conceitual, ou crença, que pode não ser tão arraigada e ser descontruída sem grandes sofrimentos.
De todo modo, o passo mais importante é a decisão de enfrentar. Vença o seu medo com determinação e, principalmente, com pensamento positivo.
Como disse o genial filósofo Baruch Spinoza, “Percebi que todas as coisas que temia e receava só continham algo de bom ou de mau na medida em que o ânimo se deixava afetar por elas.”
Almejo que esse relato pessoal, ou despretensiosa divagação, possa lhe trazer alguma sacada interessante. Se assim for, terá valido a pena!
sr. Clovis , bom dia ( respeito é bom e conserva os dentes !)
neste post ,sobre os medos , achei super-instrutivo, na medida que nos expomos publicamente ( como foi o seu caso ) e serve como parametro também para nossos medos , reais ou imaginarios ( quase sempre este ultimo) .
-quando lemos , ou ouvimos casos assim , ecoa em nós casos similares, e quando comparamos sentimos um alivio , e mesmo uma leveza, por afastar da mente estas ilusões , ao saber que outros também tem ou tinham .
-lembra um pouco os circulos de psicodrama ou similar, onde todos contam um pouco de seus dramas , e tira um peso da consciencia.
-ótimo post
Meu estimado Claudio, fique à vontade para seguirmos com informalidade, afinal somos joviais (a mentalidade é o que conta)! rsrs
Amigo, o espírito é esse mesmo, compartilhar aspectos pessoais de fragilidades, na condição de mortais e falíveis que somos, com abertura e desprendimento, de maneira que possa ajudar e estimular os leitores.
Obrigado pelo comentário e incentivo!
Abraço
Ainda bem que conseguiu cumprir esse desejo profundo e combater o medo que tinha. Agora é aproveitar bem esse deslizar sobre as águas!
Creio que todos nós temos alguns receios desse tipo, uns infundados e outros baseados em dados objectivos. Julgo que acaba por ser mais fácil combater os infundados, do que os baseados em algo que, por determinada razão correu mal e nos criou algum medo. Apesar de o desejo de voltar a fazer estar sempre presente….
Diria que nestes últimos casos, o balanço entre o sim e o não pode ser algo difícil de gerir!
Legal, Dulce, pelo comentário e ponderações. Na minha maneira de perceber, o fundamental mesmo, na essência, é deixar a vontade de superar e de realizar prevalecer, no que entram nível de clareza, consciência, foco, determinação. Caso contrário os medos que martelam na mente acabam prevalecendo. Mas, como todos os aspectos psicológicos, que habitam a complexa mente humana, têm seu nível de dificuldade, com certeza. Sigamos!
Muito obrigado por enriquecer essa reflexão!
Porreta! É isso aí! Temos que encarar nossos “medos” como desafios que a vida nos impõe! Parabéns! 👏🏻👏🏻👏🏻
Valeu, meu querido Marcello. Um incentivo é sempre bom e nos faz avançar!
Abraço, obrigado