Imagem: R7 Entretenimento
Para hoje, aqui vai uma crônica muito legal, pertinente e oportuna, que recebi diretamente do autor, o amigo e conterrâneo Sérgio Belleza, escritor, consultor e figura ímpar, ao qual sou ligado desde a infância, dos tempos da nossa juventude lá por Itaquara e Jaguaquara, no sudoeste da Bahia.
Sérgio, com invejável propriedade, dá um passeio pela história do Carnaval e, a esse pretexto, traz o foco para os festejos carnavalescos soteropolitanos, como surgiu esse incrível movimento popular, sua evolução e reinvenções, até chegar aos dias atuais, conferindo ao Carnaval de Salvador a condição de uma das maiores, mais participativas e democráticas festas populares do planeta, se não a maior delas, cujas atividades diárias vão para além de uma semana de programação ininterrupta na capital dos baianos e atraem crescente número de pessoas de fora, de outras cidades brasileiras e também do exterior.
Nesse particular, registro ter ficado muitos anos morando em outra parte do país. Ao retornar a residência para Salvador, pouco mais de três anos atrás, pude constatar a grandiosidade do que essa festa representa para a capital baiana, em termos de atividade econômica, de ocupação de emprego temporário, de modificação/adaptação de perímetros urbanos, de presença de turistas, de movimentação geral na cidade etc. E o negócio Carnaval por aqui ganhou dimensão incrivelmente consistente, o que vem assegurando expansão consecutiva e agrado geral, a cada ano. Pelo que observo nestes dias de 2020, desde os primeiros festejos que abriram a programação da temporada, com bloquinhos de rua, espalhados por diversos pontos da cidade há alguns dias, a festa carnavalesca este ano será marcante!
Bem, voltando à crônica que motivou esta postagem, vejam como tudo começou e os principais motivos que fizeram do Carnaval de Salvador um retumbante sucesso. Vale a leitura, a seguir:
“Carnaval… A melhor festa dentro da maior festa do mundo
Sérgio Belleza
A origem do Carnaval antecede a Era Cristã. Tudo começou na Itália, com o nome de Saturnálias – em homenagem a Saturno, o Tem. Com a expansão do Império Romano, as festas foram disseminadas – com bacanais inimagináveis! Será por isso que a festa se expandiu tanto?
No dialeto milanês, os italianos adotaram a palavra “Carnavale” que significa “o tempo que se tira o uso da carne”, numa espécie de abuso da carne antes da Quaresma. E o tempo passou…
Conta a “lenda” que no início do século 20, próximo ao domingo anterior à Quaresma, o baiano “entrudava” – eram brincadeiras pesadas, onde se jogava balde de água, frutas, areia, etc. Cordões, blocos e a sociedade mais despojada concentravam-se na Baixa dos Sapateiros para fazer manifestações. Os negros, mascarados, molhavam quem estivesse nas ruas, invadiam casas e todos entravam na folia. Na metade do século 18, o Entrudo passou a ser reprimido pela polícia. Nesta época, o Carnaval começou a se dividir em Carnaval de Salão e de Rua – dando no que deu!
Na década de 50 que o Carnaval começa a tomar corpo de festa popular; com foliões brincando e se divertindo atrás de carros de som – agora a “lenda” toma forma real quando uma caminhonete fubica, com alguns aparelhos de som, sai pelas ruas tocando, sem que a população entendesse muito bem o que era aquilo! Dois caras supercriativos, Adolfo Antônio (Dodô) e Osmar Macedo (Osmar), proprietários de uma oficina, decoraram uma Ford 1929, montaram uma fonte ligada a uma corrente de bateria que alimentava alguns alto-falantes, e a dupla de “malucos” saiu no domingo de Carnaval pelas ruas de Salvador arrastando milhares de pessoas. Uma placa identificava o Ford: “Dupla Elétrica”! Um dia depois, eles convidaram um amigo pra se associar à dupla, surgindo assim o “Trio Elétrico”! Aí a coisa começou a pegar…
A cada ano que passava, a festa crescia, a população estremecia e a prefeitura começou a promover concursos de rainha, de trios e de outras agremiações. O trio passou a caracterizar o Carnaval da Bahia. Ano após ano, os trios foram se profissionalizando, e até a metade dos anos 70 embora já enormes eram ainda instrumentais.
Em 1975, Caetano cantou “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu” e o Brasil ficou atento àquele tipo de música. Moraes Moreira, em 1978, canta pela primeira vez em cima de um trio elétrico a música “Assim pintou Moçambique – o povo foi à loucura, iniciando-se uma nova fase do Carnaval baiano.
Mas foi em 1985 que os baianos novamente se surpreenderam com uma nova modalidade de som, ritmo e dança: o Fricote de Luís Caldas fez balançar uma multidão – surgindo aí o Axé. O ritmo alucinante rapidamente se espalhou pelo Brasil. E o Carnaval baiano, que era basicamente de baianos, passou a ser de brasileiros e estrangeiros. A partir de então, novos artistas, músicas, blocos e ritmos surgiram para “infernizar mais ainda esses festeiros e loucos baianos.
O Carnaval da Bahia transformou-se em um espaço múltiplo: hoje reina na terra do Axé, a maior democracia musical do planeta, a diversidade abraçou a música afro, o samba-reggae, pagode, forró, brega, rock, sertanejo, quaisquer tipo de música são tocadas nas ruas de Salvador – não existe nada semelhante no mundo!
O conjunto da obra, tendo o trio elétrico como ator principal, passou das ruas para os blocos, dos blocos para os camarotes, são adaptações necessárias à renovação, e a criatividade vem dos pés das mulheres – antes era tênis – hoje elas usam plataformas, a elegância predomina, como diz meu amigo, Clínico Bastos. “