Imagem:Mundo do Marketing
A realidade dos idosos vai impactar significativamente os ambientes organizacionais. Trabalhadores e empresas têm preparações a fazer, e é pra já!
Na ampla abordagem do fenômeno da longevidade, quero dar foco mais específico para o impacto dessa realidade demográfica na composição da força de trabalho pelo mundo afora, que contará com presença cada vez maior de pessoas maduras.
Algumas considerações, gerais e preliminares, a respeito desse fenômeno:
- As pessoas já vivem hoje muito mais do que viveram as gerações anteriores, e viverão mais e mais, fruto do aumento da expectativa de vida, que é real, mundo afora. No Brasil, a população de idosos (a partir de 60 anos), já beira aos 30 milhões. Segundo estimativas, essa população vai mais do que dobrar no planeta até 2050 (passará de 2 bilhões).
- Considerando que as taxas de natalidade são decrescentes no Ocidente, em contraponto à realidade da elevação da expectativa de vida, a massa de idosos vai, consequentemente, se tornando cada vez mais expressiva
- Com isso, por exemplo, os sexagenários de hoje começam a assimilar mais nitidamente que ainda têm disposição e vasto repertório para seguir na vida. Racionalizam que as décadas ainda pela frente (pelo menos 20 anos, dos quais podendo exercer atividades por mais de 10 anos) podem ser de vida ativa, produtiva. Presente tal constatação, o questionamento de quando e por que se aposentar será formulado com muito mais frequência e propriedade!
- Os idosos da atualidade (integrantes da chamada geração “baby boomers”, nascidos entre 1946 e 1964), no geral estão ativos de alguma forma, são pessoas com crescente acesso às informações, que utilizam recursos da tecnologia eletrônica e participam do chamado mundo digital. Com isso, é natural que queiram se sentir úteis, se manter plenos, indicando que reside aí uma força disposta a seguir produtiva, desejosa de ocupar espaços.
- Dois fatores pragmáticos, principais, explicam esse fenômeno: manter a jovialidade da mente e a boa forma física (questão de saúde) e a necessidade de seguir com padrão financeiro que permita realizar sonhos, novos projetos e/ou complementar a renda proveniente de aposentadoria já adquirida, reserva que acumulou etc. Assim, a aposentadoria ganha outros significados e propósitos, posto que a tônica que claramente ganha força, para parcela expressiva de aposentados e aposentáveis, é seguir aprendendo, trabalhando, contribuindo…
- Consequentemente, temos na força de trabalho dos maduros os seguintes tipos, sob a ótica do fator aposentadoria versus a permanência no mercado de trabalho: a) que já se aposentaram mas querem seguir ativos; b) que já adquiriram as condições de aposentadoria mas não querem exercer esse direito, por diversos fatores; c) que, já atendendo à condição de idosos, não reúnem os requisitos legais para a aposentadoria, necessitando, formalmente, completar tempo de serviço.
A par desse quadro, sem entrar no mérito de possíveis restrições e dificuldades impostas por regras de regimes previdenciários oficiais, pode-se inferir que o apetite das gerações de trabalhadores, incluindo a população que chega agora à casa dos 60 anos, é cada vez menor para “pendurar as chuteiras”. E isso abre muitas oportunidades, pode ser bom também para as organizações em geral, senão vejamos.
Crescente interesse das empresas
Conforme noticiado no último dia 5 (portal G1 e outras fontes), “91% das empresas contratariam profissionais com mais de 50 anos”, de acordo com pesquisa realizada pela empresa de recrutamento Robert Half. Ficou evidenciado que o potencial de contratação de profissionais nessa faixa etária seria para cargos nas áreas Administrativa, Gerenciais, Contabilidade, Jurídico e Tecnologia.
Levando-se em conta que as políticas e práticas nessa direção ainda são muito limitadas, percebe-se que há reais perspectivas de absorção de pessoas maduras pelas organizações em geral.
Um outro dado trazido na mencionada pesquisa foi a preocupação das lideranças empresariais com a perda de conhecimentos proporcionados pela saída desses profissionais mais idosos, os baby boomers.
Claro é que o fenômeno da longevidade vem trazendo um despertar nas organizações para a população idosa, o que não poderia ser diferente. Em reforço a tudo o que falei antes, há a constatação de que as empresas já reconhecem que essas pessoas maduras contribuem positivamente para o ambiente e o negócio, com estabilidade emocional, capacidade reflexiva, expertise, entre outros fatores.
Contudo, há ainda muito preconceito e estereótipos resistentes a esse respeito. Por conta disso, estudo realizado pelo Centro de Longevidade de Stanford, indicado na revista Harvard Business Review – Brasil – Junho 2019, registra que: “sexagenários de hoje são em geral sadios e experientes e tendem, mais que seus colegas jovens, a se sentir satisfeitos no emprego. Eles demonstram forte ética e lealdade profissional aos empregadores. São motivados, reconhecidos, dedicam-se a resolver dilemas sociais e se preocupam mais com a doação pessoal e menos com a autopromoção. Mais que os jovens, são propensos a criar coesão social e compartilhar informações e valores organizacionais.”
Fato é que, se por um lado as pessoas que vão envelhecendo precisam fazer sua preparação para garantir alguma empregabilidade e ocupação do tempo (têm dever de casa, que é trabalhar seu projeto para o futuro, para o curto, médio e longo prazos), resta evidente que às empresas é requerida preparação e adoção de estratégias específicas nessa direção, pois os novos tempos exigem, claramente, equipes formadas com multiplicidade de talentos/competências e de experiência de vida.
As empresas estão preparadas?
De acordo com o norte-americano Paul Irving, professor, pesquisador, empreendedor e autoridade no tema envelhecimento, em importante matéria publicada na já referida edição da revista HBR – Brasil, as empresas não estão preparadas. E acrescenta: “O envelhecimento afetará todas as operações e estruturas empresariais – recrutamento de talentos, salários e benefícios, desenvolvimento de produtos e serviços, inovação, arquitetura de escritórios e fábricas, e até o trabalho em si – mas, por algum motivo, a mensagem simplesmente não foi entendida”.
…”o envelhecimento mudará as regras do jogo.”
Então, o que pode ser feito?
Essa é conversa para a segunda parte do artigo, que virá nos próximos dias, em complementação. Fique de olho!
Dando fechamento, poderia dizer que o quadro é desafiador, de aprendizado pessoal e corporativo, que urge ser adequadamente trabalhado (não há como fugir), em face do envelhecimento e do vertiginoso aumento dessa população, cada vez mais visível, pelas organizações e pelos mais variados lugares ao redor do mundo. Existem alguns riscos aí envolvidos, como brevemente mencionei, entretanto há muito potencial para ser convenientemente explorado, com ganhos sociais e econômicos a serem auferidos. Temos, assim, uma promissora revolução social (e econômica), resultante de variados fatores que veem elevando as taxas de longevidade para patamares nunca vistos.
Em suma, é cenário de oportunidades, com viés positivo, mas que não tolerará acomodação e perda de tempo!
Este é um assunto bastante sério e nós ja abordamos também no nosso blog: https://cinzapoderoso.blog/2019/06/09/ha-vagas-para-os-maturis/
Seria ótimo ir trocando informações e reflexões.
Abraços,
Legal, Simone Lara. Estamos juntos nessa jornada. Até breve!!!