Volto com o tema Comunicação, dando ênfase para a “arte de conversar”, em contexto que abrange fatores como solidão e empatia, presente a realidade contemporânea dos ambientes virtuais e do mundo digital.
Pensando nisso, chega em boa hora o artigo em destaque, a meu ver instigante, bem elaborado e muito oportuno, de Marta Rébon, publicado (eletronicamente) no EL PAÍS SEMANAL, dia 8 passado.
Ao refletir sobre questão relevante dos dias de hoje, resultante da comunicação com uso intensivo dos meios eletrônicos, é aventada a possibilidade de estarmos perdendo a grande essência da comunicação em sentido amplo, que inclui a troca de ideias e até mesmo as percepções além da simples fala e da escrita, como expressões facial, gestos, postura, entonação, com sério comprometimento da verdadeira interação humana, da velha conversa, do diálogo direto, olho no olho, dado que o sentir das emoções dos interlocutores é indiscutivelmente importante!
Assim, a provocação é: estaríamos menosprezando, e sepultando, a arte da conversa?
Percebe-se que o conteúdo tem abrangência ampla, incluindo a saúde integral, pois trata-se de fator que influencia em alguma medida na qualidade da socialização do indivíduo e, por consequência, pode afetar substancialmente a sua sensação de bem-estar e sua saúde psicológica.
Confira o texto, abaixo reproduzido:
Entre as muitas realizações da Internet está o cruzamento imediato de mensagens entre pessoas distantes. Paradoxalmente, isso prejudicou a comunicação verbal, entendida como troca direta de ideias
Conversar é uma arte em perigo de extinção? Dizer que sim seria, no mínimo, controvertido, porque hoje tudo ao nosso redor está montado de maneira que nos chegam sem cessar oportunidades de interagir tanto com amigos quanto com desconhecidos. A conectividade digital permite trocar mensagens sem limite, de modo que vivemos na ilusão de estarmos imersos em uma espécie de conversa infinita. A pergunta inicial pode não parecer tão absurda se pararmos para pensar sobre o que se entende por conversa e, especialmente, o que se espera de seus participantes: a expressão de argumentos, de um lado, e escuta atenta, de outro. Em nosso atual ambiente hipertecnificado, ambas as ações são um desafio. O primeiro exige certas doses de solidão prévia para que quem fala tenha tido a possibilidade de elaborar algo genuinamente próprio; o segundo, prestar atenção. Ou, dito de outra forma, remar contra a corrente no caudaloso rio de estímulos e interrupções pelo qual navegamos diariamente. E, além disso, dialogar não é uma troca de monólogos. Jean de La Bruyère dizia que o talento da conversa não consiste tanto em mostrar muito, mas em fazer que os outros encontrem.
Nossas vidas são baseadas em interações e a comunicação verbal é a ferramenta mais à mão para produzi-las. Ninguém discute a máxima aristotélica de que o homem é um animal social inclinado a exteriorizar opiniões e sentimentos. Portanto, o silêncio imposto implica pesar, e quando um ente querido deixa de nos dirigir a palavra, experimentamos dor. O escritor Henry Fielding, em seu ensaio de 1743 dedicado à conversa, a definiu como a troca de ideias mediante a qual se examina a verdade e na qual cada questão é analisada a partir de diferentes pontos de vista, de modo que o conhecimento seja compartilhado. A história conheceu grandes momentos dessa arte desde que Platão observou que é a mais elevada forma de conhecimento. Muitos séculos depois se começou a perceber a relação direta entre a estabilidade política e o mundo da conversa, que David Hume descreveu como a conversa respeitosa na qual se dá e se recebe no interesse de um gozo mútuo. Para manter um intercâmbio linguístico autêntico deve-se deixar de lado a vaidade, a intransigência e o orgulho; assim, a antítese da conversa é a polarização exacerbada.
Quanto mais tempo as crianças passam conectadas, menor é sua capacidade de identificar sentimentos alheios
A conversa, como se desenvolveu tradicionalmente ao longo da história, tem um denominador comum: o cara a cara, o aqui e agora. E essa necessidade de nos comunicar olhando nos olhos é o que a onipresença das telas já começou a diluir, a ponto de haver quem chegou a acreditar que, com esses sucedâneos de colóquios mediados por um dispositivo, nada se perde no caminho. A tela, cabe lembrar, é não apenas uma superfície que transmite conteúdos, mas também é, em sua segunda acepção, uma separação, uma barreira ou proteção que se interpõe entre os indivíduos. Por isso pesquisadores como Sherry Turkle, professora de Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia do MIT, alertam para a crise de empatia promovida pelos aparelhos eletrônicos, pois nos privam de ver as emoções que afloram quando duas pessoas se explicam frente a frente e em tempo real. Além disso, conversar também é a maneira mais eficaz de criar laços afetivos. Turkle aponta em Reclaiming Conversation (Em Defesa da Conversa) que esperamos cada vez mais da tecnologia e menos das pessoas que nos rodeiam, às quais arrebatamos boa parte da nossa atenção para redirecioná-la a conteúdos alojados em outro lugar. “Sacrificamos a conversa pela mera conexão”, acrescenta, citando estudos científicos que demonstram que a simples presença de um telefone sobre a mesa, ainda que desconectado, desvirtua a atenção de todos os presentes. Outro dado preocupante: quanto mais tempo as crianças passam conectadas, menor é sua capacidade de identificar sentimentos alheios.

Boa reflexão!
Acredito que pela nossa espécie ser gregária e interativa, a comunicação apenas mudará sua forma e talvez algum conteúdo, mas não sofrerá extinção!
Valeu, grande Arnaldo. Também creio que não haverá extinção da boa e velha conversa, até porque já existem movimentos reais de conscientização a esse respeito e, sendo mais objetivo, campanhas voltadas para a descontaminação digital. Vamos observando…
Abraço, grato pelo comentário!
Somente o olho no olho é capaz de expressar verdadeiramente o sentimento do interlocutores. A comunicação digital, midiática, mesmo com o uso de imagens reais , a meu ver , não substitui a presencial. É útil e importante em determinado contexto. Mas a troca de energia tem o poder de transformar as palavras e alterar o rumo dos acontecimentos na vida pessoal.
Legal, Sandra. Essa, a meu ver, é uma das variáveis que compõem a essência dos humanos!
Grato pelo comentário. Abs