Aqueles símbolos, ou aquelas figurinhas, chamadas de “emojis”, tão populares nos tempos atuais, com intensa utilização nas comunicações por meios eletrônicos, sobretudo pelas redes sociais, ganham crescente reconhecimento como importante auxiliar nos textos, dado o seu poder de expressar sentimento/emoção. Definitivamente, esses símbolos já fazem parte da nossa vida!
Entretanto, o significado dos emojis não é lá tão universal quanto se possa imaginar. Existem interpretações diversas para um mesmo símbolo/figura, a depender, principalmente, da formação cultural da pessoa.
Presente essa realidade, reproduzo hoje excelente artigo, publicado dia 2 passado no portal da BBC NEWS – Brasil, dissecando a respeito do alcance dos emojis. Temos aí um bom apanhado de informações e também de curiosidades que, acredito, vão lhe agradar e ainda podem lhe ser úteis.
Confira a seguir:
“Emojis: Como um mesmo símbolo pode significar parabéns e sexo em diferentes culturas

O dia do casamento pode ser um dos momentos mais intensos e difíceis de se expressar em emoções. Por isso que, no grande dia do tenista Andy Murray, campeão olímpico e de Wimbledon, o tuíte que ele escreveu para tentar captar esses sentimentos viralizou.
Em vez de palavras, Murray só usou emojis. Uma longa lista deles – desde arrumar-se de manhã para ir à igreja até a troca de alianças, a maratona de fotografias, a celebração, os comes e bebes, o amor e muito sono.
Publicado em 2015, o tuíte do tenista vinha na esteira de uma nova forma de comunicação.
Professores de linguística como Vyvyan Evans – autor de The Emoji Code: The Linguistics behind Smiley Faces and Scaredy Cats (“O Código Emoji: A linguística por trás das carinhas sorridentes e dos gatos assustados”, em tradução livre) – profetizaram o surgimento dos emojis como a “primeira forma verdadeiramente universal de comunicação do mundo” e até como “a nova linguagem universal”.
Em 2017, contudo, o especialista em psicologia de negócios Keith Broni foi contratado pela Today Translations como o primeiro tradutor de emojis do mundo.
Se essa era uma linguagem universal, por que alguém precisaria traduzi-la?

Broni afirma que isso acontece porque os emojis não são “universais” e nem uma “linguagem”. Eles são, “no máximo, uma ferramenta linguística usada para complementar a linguagem”.
Em outras palavras, os emojis não constituem e não podem, sozinhos, constituir um código de comunicação significativo entre duas partes. Em vez disso, são usados como uma maneira de melhorar textos e mensagens de redes sociais, como uma espécie de pontuação adicional.
Expressar emoções
Isso não necessariamente diminui o valor dos emojis. Broni avalia que, na era moderna, eles resolvem um problema que tem assombrado a prosa desde tempos imemoriais. As limitações inerentes à escrita privaram todos, exceto os escritores mais talentosos, da capacidade de expressar nuances, tons e emoções em suas correspondências.
O que os emojis oferecem é uma chance ao escritor médio, seja de email, SMS ou post de mídia social, para que expresse emoções e empatia em suas mensagens. Com os emojis, eles podem fazer isso de forma tão simples e natural quanto usar uma expressão facial ou gesto ao conversar com alguém pessoalmente.

O momento do aumento da popularidade dos emojis também não é coincidência.
À medida que nossas comunicações eletrônicas se tornaram mais curtas e rápidas, mais parecidas a frases que soltaríamos em uma conversa, há uma necessidade crescente de se incluir sentimentos e emoções a essas mensagens. Caso contrário, sem um sorriso ou tom de voz simpático, uma mensagem de uma linha corre o risco de ser mal interpretada como negativa, mandona ou até rude.
Ainda assim, confiar demais em emojis para fechar essa lacuna pode causar outros problemas. Todos nós temos acesso a mais ou menos os mesmos emojis no teclado do smartphone, mas o que queremos dizer quando os usamos varia muito, dependendo da cultura, linguagem e geração.
Embora o símbolo do polegar para cima possa ser um sinal de aprovação na cultura ocidental, tradicionalmente na Grécia e no Oriente Médio ele é interpretado como vulgar e até ofensivo.

Da mesma forma, na China, o emoji do anjo, que no Ocidente pode denotar inocência ou o fato de se ter realizado uma boa ação, é usado como sinal de morte e pode ser visto como ameaçador.
Já os emojis de aplausos são usados no Ocidente para fazer elogios ou dar parabéns. Na China, no entanto, este é um símbolo para “fazer amor”, talvez devido à sua semelhança com os sons “pah pah pah” (啪啪啪).
Mas talvez o mais confuso é que, na China, o emoji ligeiramente sorridente não é usado como um sinal de felicidade. Como é de longe o menos entusiasta da variedade de emojis positivos disponíveis, o uso deste emoji representa desconfiança, descrença, ou até mesmo que alguém esteja te incomodando.

Um bom indicador da falta de universalidade entre o uso de emojis foi destacado por um estudo sobre como os muçulmanos expressaram seus pensamentos sobre o Ramadã em 2017.
Hamdan Azhar, do prismoji.com, mostrou que os tuítes com o #ramadan em inglês, alemão, espanhol e turco tinham mais chances de conter o emoji de coração vermelho. No entanto, em árabe, urdu e farsi, o emoji mais usado foi a lua crescente.
Diferenças culturais
Igualmente, em inglês, francês, alemão, espanhol, turco, farsi e indonésio, os emojis de mãos entrelaçadas ficaram consistentemente entre os três primeiros de todos os emojis usados, enquanto que, em árabe, eles ficaram em nono lugar e não estavam entre os emojis mais comumente empregados em urdu.
Esse seja talvez um indicador de que unir as palmas das mãos não seja associado à oração islâmica, embora no Ocidente o símbolo tenha forte significado religioso. No Japão, onde os emojis tiveram origem, o símbolo é usado como “por favor” ou “obrigado”, sem necessariamente evocar conotações religiosas.

A forma como nossos emojis são interpretados também já provocou problemas legais.
Considere o caso de Israel no início de 2018: após ver uma propriedade, os potenciais inquilinos enviaram uma mensagem ao proprietário com uma série de emojis comemorativos.
Os futuros inquilinos recuaram do aluguel, mas o proprietário já havia retirado a propriedade do mercado. Um juiz decidiu que os emojis eram suficientes para denotar a intenção de alugar a residência – e determinou o pagamento de 8.000 shekels (cerca de US$ 2.000 ou R$ 7.360) de danos e honorários legais.
No entanto, desde que as pessoas fiquem atentas ao contexto cultural, Keith Broni ainda acredita que os pequenos pictogramas têm o poder de aproximar o mundo, em vez de distanciá-lo.
E conclui: “Os prós superam os contras. Desde que tenhamos consciência das armadilhas epistemológicas que os emojis trazem à tona, podemos usá-los para tirar a ambiguidade de certas palavras e apreciar a intenção emocional da mensagem de uma maneira que nunca tinha sido possível antes”.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future. “
Há sempre “detalhes traiçoeiros” em qualquer forma de comunicação!!
Sim, sem dúvida!!!