Os nossos dados pessoais passeiam por aí pela Internet, são utilizados por mecanismos de busca e inteligência da tecnologia da informação, cujos resultados tendem a facilitar a nossa vida, mas que também podem não ser do nosso agrado, em dada circunstância, sobretudo porque podem trazer registros de situações antigas, que até já havíamos esquecido.
É exatamente por conta disso, dessa realidade do mundo atual, que selecionei para hoje o interessante artigo “O que você esqueceu continua lá”, publicado recentemente no portal eletrônico do EL PAÍS – Brasil.
Partindo do pressuposto de que muitos dos que me leem podem não ter tanta familiaridade com a tecnologia da informação, faço aqui duas explicações, na expectativa de que facilitem a sua compreensão:
O que é “big data” – Em tecnologia da informação, o termo big data refere-se a um grande conjunto de dados gerados e armazenados com os quais os aplicativos de processamento de dados tradicionais ainda não conseguem lidar em um tempo tolerável. (Wikipédia). Ou seja, são dados que circulam pela Internet, produzidos em grandes volumes, a cada segundo, gerados por meio dos diversos dispositivos eletrônicos, como computadores, smartphones, smart televisores, incluindo informações de transações comerciais, conversas em redes sociais etc.
O que é “armazenamento na nuvem” – em interpretação livre, e tentando simplificar, diria que se trata de um serviço, oferecido por provedor/fornecedor de computação à distância, destinado a armazenar dados na Internet, que, assim, passa a gerenciar e operar o armazenamento físico dos seus arquivos, dados e informações. Com essa contratação, caso efetivada, você elimina a necessidade de manter grandes espaços para guarda (arquivamento) físico dos seus dados, tendo por facilidade o acesso a esses repositórios de qualquer lugar, a qualquer tempo, e mediante o uso de qualquer tipo de dispositivo (equipamento).
Segue a reprodução do artigo, inteligentemente escrito e mais do que oportuno, com a minha recomendação de leitura!
“O que você esqueceu continua lá
Cada detalhe da sua vida digital é uma gota no oceano do ‘big data’
Você confia inocentemente que ninguém vai bisbilhotar ali
CRISTINA ERRE
“Funes não só se lembrava de cada folha de cada árvore de cada montanha, mas de cada uma das vezes que a percebera ou imaginara”. Um dia, o jovem Ireneo Funes caiu do cavalo, perdeu a consciência e, quando se recuperou, “o presente era quase intolerável de tão rico e nítido, e também as recordações mais antigas e triviais”.
Ele é o personagem de Funes o Memorioso, um dos melhores contos de Jorge Luis Borges, incluído em Ficções (1944). Essa mente prodigiosa — a do protagonista da história, não a de Borges — se vê sufocada pelo acúmulo dos mínimos detalhes. Era capaz de reconstruir um dia inteiro, mas levava um dia inteiro para fazer isso. “O que foi pensado apenas uma vez não podia mais ser apagado”. Parece um dom milagroso, mas é uma desgraça. Porque Ireneo Funes é incapaz de ter ideias gerais. Borges conclui: “Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. No mundo abarrotado de Funes só havia detalhes, quase imediatos”.
Os humanos comuns tendem a esquecer mais do que a reter cada detalhe da folha de uma árvore. Isso nos permite manter o equilíbrio, simplificar a complexidade e não sofrer tanto como Funes, que não conseguia dormir. Também esquecemos, consciente ou inconscientemente, coisas de nós mesmos que não queremos reter, e assim vamos construindo um eu em parte real e em parte fictício.
De vez em quando, o Facebook te assalta com memórias. Há dois anos você escreveu isto, quer compartilhar novamente? Talvez algo te arranque um sorriso, talvez te envergonhe. Talvez apareça a imagem daquela pessoa amada e perdida ou do companheiro que te deixou. Talvez uma piada de mau gosto, rótulos em fotos de uma noite louca. Qualquer coisa que você não queria que perdurasse.
Os seus rastros digitais são extenuantes. Em algum canto do big data estão todas as mensagens que você trocou, os caminhos que seguiu todos os dias, as suas buscas, as fotos de que você gostou, sua lista de amigos, seus cookies (sim, aceito). Muito poucos se preocupam em apagar o rastro de seu passado, o que exigiria tanto tempo quanto dedicaram ao longo do dia mexendo no celular. Esperamos que nesse oceano de dados ninguém vai remexer, só mesmo os algoritmos que tiram proveito disso. A menos que você se torne uma figura pública, é claro, e os trolls se empenhem em fuçar nos seus antigos tuítes para descobrir indiscrições. Mas não é preciso ser famoso. Em qualquer site ou aplicativo, não só os seus dados te acompanham, mas os seus metadados, um perfil que você não escreveu.
Ireneo Funes “achava que na hora da morte ainda não teria terminado de classificar todas as memórias da infância”. Para nós, cidadãos do século 21, chegará a hora sem termos podido apagar tudo o que desejaríamos que não continuasse ali. “
Republicou isso em Nova Visão: Cultura & Cidadania.
O Google+ avisou que vai sair do ar em Abril e já providenciou um aplicativo para que os usuários façam seus back up. Há muita coisa que eu gostaria de apagar, mas – de fato! – não sei onde está.
Acho que o jeito é pensar 10 vezes antes de registrar algumas “memórias”, que vão servir para muita coisa. Chato isso, não?
É, amiga Sandra, estamos numa grande enrascada contemporânea! Rsrs
É bom ter isto sempre em mente…
Algumas coisas são importantes se ter registro, por facilitar a vida. Porém, muitas coisas registradas, correm o risco de serem usadas indevidamente.
Pois é, Lúcia. Todo cuidado é pouco!
Bom ver você de volta por aqui. Abração,