Compartilho por aqui esta notícia mais do que positiva, diria alentadora, a respeito de um clube do livro formado por ex-detentos do DF, que foi divulgada no portal G1. Considerando que procuro divulgar iniciativas que sirvam, em alguma dose, para estimular o hábito de leitura, tão reduzido em nosso país, fiquei alegre com o que li.
A propósito, esse agrupamento voluntário de pessoas com o propósito de ler e resenhar livros escolhidos pelos próprios integrantes, dando margem aos denominados ‘clubes do livro’ (ou ‘clubes de leitura’) funciona mesmo. Diria se tratar de excelente estratégia em prol da leitura, que faz bem, em sentido bastante amplo, para quem dele participa, em termos de aquisição de conhecimento, de evolução intelectual, de socialização, de qualidade de vida, e por aí vai!
Veja esta definição colhida do site Wikipédia (a enciclopédia livre):
Um clube do livro, também conhecido como clube de leitura, é um clube social onde pessoas normalmente se encontram para discutir sobre um livro que acabaram de ler, expressando suas opiniões, críticas, etc. Comumente, membros de clubes do livro encontram-se em suas casas, em livrarias, pubs, cafés, restaurantes, etc. Há também clubes do livro online.
Com efeito, conheço de perto a iniciativa do Clube do Livro da ABACE (Associação Brasiliense de Aposentados do Banco Central), uma ação exitosa sob vários aspectos, desde a sua criação em 2010, considerada estratégica e emblemática para os propósitos daquela entidade, da qual sou associado e membro eleito do Conselho de Administração.
Espero que iniciativas dessa natureza se reproduzam pelos quatro cantos do país, mereçam incentivo, divulgação e até se popularizem. Aliás, não se deve formar juízo de que isso é coisa de elite. Convenhamos, o incrível poder de comunicação das redes sociais, nos dias de hoje, está aí para ajudar. Com isso, a educação, a cultura e a cidadania em nosso país têm muito a ganhar!
Feitos esses registros, eis a reprodução da mencionada matéria (a seguir):
“Ex-detentos criam clube do livro em Brasília: ‘transformação pela leitura’
Grupo foi criado no ano passado e, desde então, já debateu obras de Victor Hugo a Dostoiévski. Livro do mês é ‘Crime e castigo’.
Por Marília Marques, G1 DF
Ex-detentos criam clube do livro em Brasília — Foto: Victor Gomes / G1 DF
Um grupo de ex-detentos escolheu a literatura para se tornar “protagonista da própria história”. Eles se conheceram ao sair do sistema penitenciário e, há um ano, criaram um clube de livros com encontros mensais em Brasília.
Desde então, a cada mês, os 12 amigos escolhem obras variadas e debatem ideias e impressões sobre as narrativas, contexto da história e perfil de cada autor.
As rodas de conversa são marcadas em cafeterias, shoppings e em salas de universidades do DF – “lugares que aparentemente são inacessíveis para pessoas que vieram de onde nós viemos”, explica o idealizador do clube, Jeconias Neto, de 27 anos.
Aos 14 anos ele foi apreendido em Brasília e cumpriu pena no sistema socioeducativo. Ao sair, já adolescente, conta que se viu desamparado e, por isso, decidiu vender sorvete na rua. Tempos depois, passou a vender livros, se dedicou aos estudos e, então, entrou em um projeto que o ajudou a cursar a faculdade de teologia na Argentina.
Idealizador do clube, Jeconias Neto, de 27 anos — Foto: Victor Gomes / G1DF
Ao lado dele, hoje, se reúnem no clube outros tantos colegas que também foram presos e cumpriram penas por assalto, tráfico de drogas e tentativa de homicídio. A partir da literatura, os ex-detentos decidiram trocar as armas pelos livros.
“É muito mais que ler, é uma iniciativa de apoiar um ao outro. É uma transformação pela leitura.”
“Depois do clube, já temos três colegas que estão fazendo faculdades, e um já está se formando agora, foi meu amigo de crime, mas hoje é de leitura”, afirma o idealizador.
‘Os miseráveis’
Como referência de livro marcante, Jeconias cita a história do personagem Jean Valjean, protagonista de “Os miseráveis” – obra famosa do escritor francês Victor Hugo.
O livro conta a história de um condenado posto em liberdade depois de roubar um pão. O título foi um dos primeiros da lista a ser escolhido. Um ano depois, os ensinamentos do clássico ainda mexem com as emoções dos integrantes do clube.
” ‘Os miseráveis’ foi o que mais marcou, porque todo mundo se viu na realidade do livro, de como Jean passou por tudo e aceitou o perdão, sinistro como ele aceitou o perdão”, conta.
“Todo mundo chorava quando se falava disso. Porque é o que faltava no coração da gente: a falta de ser abraçado como Jean foi, de ser perdoado e de ser aceito.”
Crime e castigo
Outro clássico que está na mesa de cabeceira de todos do grupo é a obra-prima do escritor russo Fiódor Dostoiévski. “Crime e castigo” foi escolhido como livro do mês de fevereiro e já levantou o debate sobre outras sociedades.
O gestor público Joymir Guimarães, de 36 anos, faz parte do clube desde os primeiros encontros. Para ele, o livro do mês tem um significado especial “por mostrar realidades sociais que nunca tínhamos conhecido”.
Gestor público Joymir Guimarães, de 36 anos — Foto: Victor Gomes / G1DF
Joymir foi preso aos 26 anos e, depois de cumprir uma pena de quase seis anos no Complexo Penitenciário da Papuda, reencontrou Jeconias, amigo de infância que logo o convidou para montar um grupo de leitura.
O amor pelos livros, no entanto, já tinha surgido muito antes, quando Joymir ainda estava atrás das grades. “Na cadeia, um policial civil notou a maneira como eu cumpria a pena, viu uma certa diferença e começou a me ajudar”, conta.
“No começo eu não aceitei ajuda, mas ele tinha as melhores intenções e começou a me ofertar livros religiosos. Quando eu sai, comecei a participar de rodas de conversa no socioeducativo, ajudar as pessoas passou a fazer parte de nossas vidas”.
“Os livros mostram que existe uma saída. Há exemplos de grandes pensadores que tiveram a vida transformada, não por crimes como os nossos, mas sendo protagonistas, estudando, trabalhando e alcançando as coisas dessa maneira”, diz, orgulhoso.
Literatura na cadeia
Usando como exemplo as próprias histórias e o amor em comum pelos livros, cinco dos 12 membros do clube do livro de ex-detentos estão levando encontros semanais também para dentro dos presídios e de unidades socioeducativas do DF.
Além da abordagem sobre literatura, os debates para os mais jovens falam sobre postura profissional, autocuidado e formas de apoiar um ao outro. “É muito mais do que ler”, diz Jeconias.
“A leitura é fera. Se, um ano atrás, alguém trocasse ideia com o clube do livro, veria a diferença na argumentação”, lembra. “Somos mais sinistros agora, sabemos organizar melhor o pensamento”. “
Excelente !!!
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