Olhando alguns livros pelas minhas estantes com o propósito de fazer doação, prática que adoto periodicamente, voltei a folhear este excelente “ALGO ALÉM DA GRANDEZA”, de Judy Rodgers e Gayatri Naraine, pela Integrare Editora, cuja divulgação contou com o apoio da universidade espiritual mundial Brahma Kumaris.
A publicação é resultado de pesquisa, conduzida pelas autoras, buscando compreender o que leva uma pessoa a viver por causas grandiosas, qual o impulso que faz alguém se arriscar para salvar uma vida (ou várias vidas), em suma, para o altruísmo e para a prática de ações abnegadas.
Para tanto, registram precioso diálogo que tiveram, durante o trabalho, com o chileno Humberto Maturana (biólogo cognitivo) e com a indiana Dadi Janki (líder espiritual), resultando num belíssimo conjunto de pensamentos, opiniões e reflexões acerca dos atos de bondade e de grandiosidade do ser humano. O produto final é uma obra impactante, inspiradora, e a meu ver essencial!
Como registrado na capa de fundo, “é possível entender que as grandes ações praticadas pelas pessoas mencionadas neste livro brotam de algo que é nato em nós – algo que faz parte da nossa natureza original, mas que esquecemos. O apelo atual é para recuperarmos a grandeza perdida.”
Considerando o atual momento que vivenciamos neste planeta terra, especialmente no Brasil, quero compartilhar com você alguns trechos que fui marcando durante a leitura do livro (esse é o meu jeito de ler), ocorrida cerca de um ano e meio atrás. Espero que referidos destaques consigam transmitir o real valor dessa obra singular acerca de algumas virtudes humanas fundamentais. Além de tudo, observo que o livro foi escrito de forma leve e agradável!
Vamos aos trechos desta minha seleção:
Humberto Maturana, sobre o que ele conceitua de a biologia do amor: “Sentimo-nos amados quando estamos numa relação na qual não existem expectativas ou demandas colocadas sobre nós, de forma que não precisamos justificar a nossa presença. O amor não espera retribuição”. (Páginas 13 e 28);
Ao realçar que a humildade sempre está presente nos atos e nas vidas grandiosas, as autoras registram esta declaração de Martin Luther King Jr, durante o movimento pelos direitos civis, na década de 1960: “Saibam os senhores que, se M. L. King nunca houvesse nascido, ainda assim este movimento iria adiante. Foi mero acaso eu estar aqui. Os senhores não ignoram que chega um tempo em que o próprio tempo se prepara para a mudança. Esse tempo chegou em Montgomery, e não tive nada a ver com ele”. (Página 60).
Reflexão de Dadi Janki sobre o perdão: “A mesma pessoa que nos causou sofrimento ou ódio virá até nós um dia para pedir perdão. Ater-nos ao fato de que alguém nos traiu ou enganou nos torna reféns da ira em nosso íntimo. Na verdade, deveríamos também ajudar os que nos enganaram a esquecer o que fizeram conosco. Quando vemos a oportunidade de perdão, precisamos ajuda-los a diminuir sua dor e sofrimento, que são a consequência das primeiras ações que praticaram. É por isso que precisamos ter perdão, amor, piedade e compaixão. Ajudar alguém a esquecer os próprios erros é a forma mais elevada de caridade”. (Página 78).
No capítulo Nove (O EFEITO DOMINÓ DA GRANDEZA), sãs trazidas pesquisas que começam a ser feitas por psicólogos com pessoas que presenciaram atos grandiosos. Ao falar sobre a ‘elevação’, um tipo de emoção (ou sensação) edificante, inspiradora, que transcende a própria pessoa, assim comentou o psicólogo Jonathan Haidt: “A elevação é um sentimento cálido, nobre, que as pessoas experimentam quando contemplam atos inesperados de bondade, afabilidade e compaixão humana. Faz com que desejemos ajudar os outros e que desejemos ser melhores”. Segundo o pesquisador, a circunstância que com mais frequência provoca elevação é ver alguém ajudar uma pessoa necessitada. (Páginas 87/88).
Ao comentar sobre o chamado efeito dominó, Dadi Janki disse: …“Assim, quando alguém presencia um ato de grandeza, um ato absolutamente altruístico, sente-se transformado pela pureza de intenção nele contida. Pode sentir admiração ou gratidão. Esses sentimentos são verdadeiras bênçãos projetadas da pessoa que contempla a boa ação para aquela que a pratica. Há nisso uma dupla recompensa: bênçãos para quem faz e coragem para quem testemunha o feito”. (Página 98).
A respeito de vontade e emoção, Maturana comentou: “A vontade é a paixão que colocamos ao fazer algo que queremos”… “O comportamento humano não é guiado pela razão, mas sim pelas emoções.”… “Nós, seres humanos, dizemos que somos racionais, mas não é bem assim. Somos seres emocionais e usamos a razão para justificar nossas respostas emocionais. Nossos desejos nos dão energia para a ação. Aplicamos essa energia nos domínios em que temos desejos”. (Páginas 110/111).
Ao responder a pergunta: “Existe alguma coisa especial em nossa época, algo que nos permitirá não voltar a cometer os erros do passado?”, eis o que disse Dadi Janki: “Sim, kaliyug (a era das trevas) está terminando, e satyug (a era da verdade) está chegando. Estamos no período intermediário”. (Página 111).
… Ao falar, novamente, sobre o efeito dominó da grandeza, ela afirmou: “Dizemos que a ciência, a tecnologia e a mídia fizeram deste mundo uma aldeia global. Há um tipo de partilha que faz o mundo ser global. Um pássaro da Ásia pode provocar uma epidemia de gripe no mundo. O mesmo pode suceder com a propagação de uma mudança de consciência. Quando um número suficiente de pessoas começar a enxergar a si mesmo e à humanidade de um modo que não seja limitado pelo mundo físico, o mundo alcançará um ponto máximo e entrará na era da verdade; este é o modo ilimitado em que Deus nos vê”. (Página 113).
E do capítulo doze (REFLEXÕES SOBRE A BUSCA DA GRANDEZA) destaquei:
“O amor surge como o alicerce da grandeza no comportamento humano.” (Página 117)
“A grandeza não é uma realização. Não é algo que se obtenha por esforço dedicado. A grandeza surge quando um observador fala dela, quando vê um ser humano agindo espontaneamente, com visão sistêmica, e sente-se comovido ou surpreso pelas circunstâncias dramáticas em que a ação ocorre. O que o observador de fato vê é nada mais, nada menos, que a presença do amor como a emoção fundamental que impulsiona, realiza e conserva a qualidade humana.” (Páginas 118/119).
…”Ideologias, doutrinas e convicções são o veneno da vida. Elas aprisionam a inteligência e cegam a alma. As grandes ações praticadas pelas pessoas que mencionamos brotam de algo que é inato em nós – algo que faz parte de nossa natureza original, mas que esquecemos. O apelo atual é para recuperarmos a grandeza perdida. Quer acreditemos ser filhos de Deus, como Dadi Janki acredita, ou criaturas do amor, por causa de nossa constituição biológica, como sustenta Maturana, o resultado é o mesmo.” (Página 122).