Como dito no poema Quantos Anos Tenho?, atribuído por aí ao português José Saramago (autoria não confirmada): “O que importa é a idade que sinto”
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Tenho absoluta clareza, e reforçada argumentação, para afirmar que a idade que conta mesmo é a idade da mente (ou psicológica), aquela que mede o “como me sinto”, ou o “como estou diante da vida”, reveladora da nossa mentalidade, da nossa visão de mundo, da nossa disposição de querer viver e ser feliz, ou não!
A idade medida pelos anos já vividos desde o nascimento, que chamamos de idade cronológica, não deve ser levada muito em conta. Ela serve de referencial, até para efeitos legais, mas não pode, por si só, ser limitadora. O passar dos anos, o desgaste biológico, é inexorável, mas com uma mente jovial a pessoa não precisa dar bolas para isso. A história está cheia de exemplos de homens e mulheres que ficaram idosos(as) mas que não envelheceram, que seguiram em busca de sonhos, de fazer a diferença no mundo, muitas das quais alcançando reconhecimento e sucesso após os 60 ou 70 anos de idade.
Esse foi um dos aspectos que busquei demonstrar ao longo do meu livro LONGEVIDADE, e que tenho enfatizado com frequência, em textos, entrevistas e, sobretudo, nas palestras que faço sobre as temáticas relativas à aposentadoria, ao natural processo de envelhecimento do indivíduo e ao que se denomina de qualidade de vida, em face de um contexto de espetacular crescimento da expectativa de vida. A lógica é: como vamos viver mais, cabe-nos colocar a força da nossa mente (pensamentos, crenças e atitudes) a nosso favor, a favor de uma vida plena, realizadora e verdadeiramente feliz!
Acontece que, observando a mentalidade (e o jeito de viver) de muitas pessoas por aí, percebo que, infelizmente, muitos homens e mulheres se deixam influenciar pelos anos já vividos, sendo regidos por referenciais equivocados e crenças negativas: “já estou velho”, “isso não é mais para mim”, “o meu tempo já passou”, “agora eu só quero sombra e água fresca”, “aprender algo novo e encarar desafio é coisa para jovens”, “o que não fiz até aqui não vou fazer mais”. E a lista dessas “verdades” vai longe…
A propósito dessa constatação, vou transcrever, a seguir, trechos de um diálogo intitulado “A fonte da juventude”, retratado no agradável e enriquecedor livro Vale a pena Amar (Petit editora), de José Carlos De Lucca. Gostei bastante do relato, por descrever o modo de pensar (mentalidade) de um senhor, bem idoso, que estava jogando tênis com invejável desenvoltura, agilidade e alegria antes de começar a aula que o autor faria no horário seguinte, em determinada academia de tênis. Observe quanta sabedoria:
O que seria a fonte da juventude?
“De Lucca – O senhor joga muito bem, hein?
Idoso – Você quer dizer muito bem para a minha idade, não é mesmo? …
De Lucca – Bem, não posso deixar de reconhecer que não é muito comum pessoas com a sua idade parecerem tão joviais.
Idoso – Eu concordo. Mas também conheço muitos jovenzinhos bem idosos.
De Lucca – Confesso que às vezes me sinto mais velho do que a minha certidão de nascimento.
Idoso – Juventude ou velhice é um estado de espírito, não um determinado número de anos a que se chega.
De Lucca – Como o senhor se conserva tão jovem?
Idoso – É simples. Minha primeira regra é não ficar pensando que estou velho, tampouco que estou próximo da morte. Isso deve ser péssimo, você acaba morrendo antes da hora. Minha segunda conduta é constatar que todos nós carregamos dois arquivos interiores: num arquivo, que denomino arquivo morto, nós depositamos os fatos e ocorrências tristes; noutro arquivo, que chamo de arquivo vivo, nós guardamos as lembranças felizes, as recordações alegres que fizeram a nossa vida mais encantadora. Raramente mexo no arquivo morto, abro-o apenas para jogar as emoções tristes que não me fazem bem. Depois fecho o arquivo e não volto a abri-lo. Já o arquivo vivo eu abro todos os dias, preencho o meu dia com lembranças felizes, recordo minhas conquistas profissionais, os amores que amei, os momentos alegres que passei ao lado dos amigos e familiares, relembro minhas canções preferidas, admiro as crianças sorrindo, os jovens enamorados, enfim inundo minha alma de tudo quanto é belo, de tudo quanto é lindo. Eu não tenho nenhum conflito, nem comigo, nem com os outros. Vivo feliz.
De Lucca – E o senhor se sente bem fisicamente?
Idoso – Estou na melhor fase de minha vida, meu amigo. Não tenho doença alguma…
…
De Lucca – Me desculpe a indiscrição, mas já que o senhor é assim tão jovem, poderia me dizer a idade?
Idoso – Ah, eu estava esperando por essa pergunta. A fonte da juventude, meu amigo, está exatamente em não se fixar em nada, em nenhum condicionamento. E idade é um condicionamento dos mais implacáveis. Na vida, não conta muito o que você olha, mas o que você vê. Tenho como lema um provérbio russo que afirma ser o passado um farol, não um porto. O agora é o meu porto, o porto de onde meu barco parte para as incertezas do mar. Aí está o segredo da juventude.”
Como visto, esse senhor estava no espírito do “ageless” (literalmente, sem idade), que consiste em viver com jovialidade, regido pela idade da mente e da vontade de ser feliz, sem se importar com a marca do tempo determinada pela idade cronológica.
Pense sobre isso, deixe aqui o seu comentário e fique à vontade para compartilhar!
Tudo é o que nos parece ser. Nem sempre é o que o outro pensa.
Importante é como eu me sinto.
Muito bom. Devemos refletir se a idade ainda é uma referência. Talvez para o Estado. Não para os sábios .
Bacana, Luiz. Grato por comentar!!!
Eu gosto de pensar que os únicos momentos em que espero “sentir-me” e assumir que sou idosa…será quando usufruir dos descontos que o meu pais simpaticamente oferece aos cidadãos com mais de 65 anos!
Muito importante tudo o que está aqui escrito, especialmente quando se diz que o importante é tudo fazermos para nos sentirmos felizes ao longo de toda a vida, seja qual for a longevidade que ela nos permita.
Legal, Dulce. Esse é o espírito que nos faz bem, para o viver bem!
Grato!!!