Entenda o que é inovação e o que é ser um inovador de verdade!

Muito se fala em inovação, criatividade e até mesmo em disrupção (produto, solução, modelo de negócio diferente capaz de criar novo mercado, novo referencial, com poder de desestabilizar o que se conhecia até então), o que é natural – e essencial – em tempos de crise, de alta competitividade e de mudanças velozes e radicais, próprias deste Século!

Mas… o que é mesmo ser uma pessoa inovadora, daquelas que se destacam por encontrar soluções fora do comum? Quais as características, seus diferenciais, seus traços de personalidade e competências mais significativas? Quais as condicionantes para que elas desenvolvam seu potencial?

Para clarear nosso entendimento a esse respeito, reproduzo, a seguir, o excelente artigo ‘Quem quer ser inovador?’, da Psicóloga Angelita Scardua, postado semana passada no seu blog Os Sentidos da Felicidade. Após a leitura, é possível que você reveja alguns conceitos e crenças gerais, inclusive sobre os ambientes mais e menos propícios para que a inovação possa florescer. Confira!

“Quem quer ser inovador?

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Umas das publicações do prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, é a Revista “MIT Technology Review”. Desde 1999, a revista publica anualmente uma lista com 35 inovadores com menos de 35 anos que se destacaram como inventores, empreendedores, visionários, humanitários e pioneiros em todo o mundo. A lista de 2017, além de incluir o brasileiro que criou a Easy Taxi, Tallis Gomes, gerou um estudo muito interessante conduzido na Fundação Dom Cabral. O estudo, de autoria do Prof. Hugo Ferreira Braga Tadeu e do estudante de Engenharia e bolsista de Iniciação Científica Rodrigo Penna, faz uma avaliação do perfil psicológico dos inovadores listados pela revista.

A metodologia utilizada para a avaliação é baseada nas cinco grandes dimensões do Big 5. O Big 5 é um teste de personalidade validado e utilizado mundialmente, mas que, curiosamente, é muito pouco conhecido dos psicólogos brasileiros. Até porquê a maioria absoluta dos cursos de Psicologia da Personalidade nas Faculdades de Psicologia do Brasil não o ensinam e discutem, apenas ignoram sua existência! Bom, voltando ao estudo realizado na Fundação Dom Cabral, os resultados obtidos com a análise do perfil psicológico dos Inovadores são muito interessantes, especialmente porquê vai de encontro ao que comumente se costuma pensar sobre quem são os inovadores.

Para muitos, pode parecer surpreendente que a maioria dos Inovadores pontua muito baixo, muito mesmo, em simpatia e amabilidade. Do ponto de vista do estudo psicológico da personalidade, isso faz muito sentido. Para ser inovadora a pessoa não pode ser dependente da aprovação do grupo, ela não pode ser conformista, ela não deve ser obediente à autoridade, ela não pode ser cordata. A ação inovadora exige assertividade, criatividade, autoconfiança. Ou seja, inovar exige que a pessoa esteja disposta a discordar da maioria, a questionar os modos de funcionamento pré-estabelecidos e coletivamente valorizados, a contestar “verdades” consolidadas. O fato é que não dá para ser essa pessoa e ser simpática e amável ao mesmo tempo. Quando alguém se posiciona em oposição ao que é validado pelo grupo, ele será combatido, muitas vezes agressivamente. Ele será excluído, ele será alijado.

Os grupos sobrevivem da convergência de interesses, da concordância de seus membros, da solidez de suas verdades. É por isso que, evolutivamente, pode-se pensar na simpatia e na amabilidade como recursos desenvolvidos para garantir inserção grupal. Os simpáticos e amáveis tendem a recorrer ao grupo, às associações, como mecanismo de sobrevivência. Uma vez que a simpatia e a amabilidade tornam a pessoa menos suspeita de potencial disruptivo, e mais afeita à adaptação às normas grupais. Historicamente, grupos não promovem mudanças. Indivíduos promovem mudanças e transformações a partir de ideias inovadoras, que são apropriadas pelos grupos e, então, adequadas e acomodadas às necessidades e à capacidade de compreensão coletivas.

Similarmente, no estudo da Fundação Dom Cabral aparece que a Extroversão não é uma característica comum entre aqueles que inovam. Entre Inovadores Inventores ela é praticamente inexistente. Quando a pontuação em extroversão é alta – que é o que acontece com Inovadores Empreendedores e Humanitários, por exemplo – ela quase sempre diz respeito a características como assertividade e nível de atividade. Curiosamente, aspectos da Extroversão como agregação e alegria aparecem muito baixos em quase todos os Inovadores. Faz sentido que os aspectos assertividade e nível de atividade se destaquem na maioria dos Inovadores que pontuam alto em Extroversão, e mesmo entre os que não pontuam. Fica difícil inovar – defender e apostar em uma ideia incomum, desafiadora, diferente do que prega ou pensa a maioria – sem acreditar em si mesmo ou na sua ideia.

Da mesma forma, parece natural que Inovadores estejam sempre envolvidos em diferentes atividades ao mesmo tempo, o que é um comportamento característico de pessoas curiosas e abertas à experiência. Essas mesmas características, contudo, tendem a deixar a rotina de inovadores meio atropelada e ligeiramente desorganizada. A despeito dos prejuízos gerados por interesses diversos, sem curiosidade e sem abertura para a experiência fica muito difícil inovar, mas muito fácil repetir o que é dado como pronto e acabado. Talvez a Extroversão apareça com maior frequência e força entre Inovadores Empreendedores e Humanitários por duas razões: para empreender não é necessário criar algo original, é possível empreender apenas adaptando criativamente uma ideia, copiando algo que já existe e modificando. É o caso dos Empreendedores na Lista da MIT Technology Review. Eles utilizaram ferramentas, ideias já existentes e as adaptaram a contextos específicos, desenvolvendo novas maneiras de utilizá-las. Outra razão para maior pontuação em Extroversão, entre Inovadores Empreendedores e Humanitários, é que a inovação humanitária demanda o convívio com as pessoas, seja para identificar suas necessidades, seja para conduzir ações que possam transformar suas vidas cotidianamente.

A originalidade, vista como a capacidade para criar algo inédito, está diretamente associada à Introversão. Um Inovador Introvertido pode aprender a se mover socialmente, a lidar com as demandas sociais, exemplos como Elon Musk, Steve Jobs e Mark Zuckerberg. Mas o Introvertido será sempre um sociável polido, educado, mas nunca simpático ou amável. Não se engane, simpatia e polidez são coisas muito diferentes! Ou seja, o Inovador Introvertido aprenderá a utilizar os recursos da sociabilidade racionalmente, e os usará quando lhe for conveniente.

O que é muito interessante no estudo da Fundação Dom Cabral sobre o perfil psicológico de Inovadores é que: os resultados nele apresentados levantam a possibilidade de se questionar todo o discurso dominante em palestras motivacionais sobre Inovação e Inovadores. Platitudes as mais diversas que apontam o trabalho em equipe, a extroversão e outros fatores como fundamentais para ações inovadoras talvez precisem ser redimensionados. Perguntas devem ser feitas: O que é Inovação? A Inovação possível em uma Organização Privada ou em um Setor Público é da mesma ordem da Inovação promovida no campo científico? O quão possível é inovar em estruturas rígidas, hierárquicas e consolidadas como é a maioria das empresas, dos órgãos públicos e de muitas Instituições Universitárias?

No mais, é válido pensar como o discurso dominante sobre a Inovação, entre aqueles que se dizem “especialistas” no tema, ressalta o trabalho em equipe, a extroversão e a alegria como fundamentais para a geração de ideias e realizações inovadoras… Quando a análise do perfil psicológico de Inovadores aponta para o fato de que entre eles prevalecem aspectos como melancolia, autoridade, independência, necessidade de tempo para si mesmo, liberdade para definir as próprias metas e a vontade de fazer o próprio caminho sem seguir o que outros fizeram! Isso sem falar na divergência entre o entusiasmo disseminado pelo discurso das palestras motivacionais que afirmam que somos todos igualmente inteligentes e criativos, quando o perfil dos Inovadores destaca Capacidade Intelectual, Abertura à Experiência e Curiosidade como fatores relevantes.

Se pudéssemos todos ser igualmente inteligentes e criativos, seríamos todos Inovadores, o fato é que pouquíssimos de nós o é de verdade. A maioria absoluta de nós apenas reproduz: sejam ideias, comportamentos, pensamentos, estratégias, etc. Particularmente, acredito que o verdadeiro Inovador é inibido quando forçado a trabalhar em grupo, a não ser que ele lidere. O grupo reprime qualquer ameaça de ruptura, o grupo tende a querer enquadrar e moldar o indivíduo à visão grupal. O grupo é bom para seguidores, que se sentem seguros e confortáveis quando validados pela maioria. Afinal, quem quer, de verdade, ficar de fora do rebanho?

P.S.: Quem quiser ler o relatório completo da Fundação Dom Cabral: https://www.fdc.org.br/…/Personality_Insights_de_Perfis_Ino…

P.S.2.: Quem quiser ler a lista completa da MIT Technology Review: https://www.technologyreview.com/…/innovators-under-35/2017/ 

Fonte: https://angelitascardua.wordpress.com/2018/05/01/quem-quer-ser-inovador/#comment-5503

Sobre JCDattoli

Este blog foi idealizado para compartilhar reflexões e discussões (comentários, frases célebres, textos diversos, slides, vídeos, músicas, referências sobre livros, filmes, sites, outros blogs) que contribuam para a realização e o crescimento do ser humano em toda a sua essência e nas dimensões pessoais e profissionais. Almejo que o ser humano se mostre cada vez mais virtuoso, atento e disposto a servir ao próximo em cada momento da sua existência. Atuei profissionalmente por quatro décadas, com bastante intensidade, nas áreas pública e privada. Ocupei de cargos técnicos a postos de chefia e direção. Neste novo momento, pretendo ajudar pessoas a atingir outros patamares na vida – e na profissão. Dedicarei parte do tempo para ações sociais/humanitárias (levar música ao vivo para casas de idosos é uma das frentes de atuação, iniciada em 2007), além de assegurar espaços na agenda para o exercício do autoconhecimento e para a meditação, no caminho da evolução pessoal permanente . Gosto de ler, de aprender coisas novas, de praticar atividades físicas e de cantar-tocar violão. A família e as amizades são preciosas matérias-primas na construção do bem viver. Apesar das incongruências, desencontros e descaminhos humanos, tenho por missão dedicar-me mais e mais às pessoas como contributo para um mundo verdadeiramente melhor!
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